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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A Congregação Cristã do Brasil e o uso do véu

Uns dias atrás me deparei com uma cena um tanto quanto curiosa e interessante. Ao trafegar pela via principal de uma cidade vizinha a minha querida Pau dos Ferros, passei de frente a um templo da Congregação Cristã do Brasil (CCB); atento, pude contemplar mais ou menos como estava sendo a reunião. Na verdade estava em busca dos famosos véus, os quais não tinha tido a oportunidade de pessoalmente ver uma crente da CCB os usando. E eles estavam lá! Confesso que fora um tanto emocionante, pois me senti, mesmo que tenha sido por uma fração de tempo ínfima, no oriente médio, vendo algumas muçulmanas!

Brincadeiras a parte, o negócio se reveste de uma considerável seriedade. A CCB teve como fundador o italiano de Udine, Louis Francescon, o qual ainda jovem imigrou para os Estados Unidos, tendo tido por lá o primeiro contato com o evangelho sob a ótica protestante. Posteriormente Francescon viera a fundar, com a colaboração de alguns crentes, a Igreja Presbiteriana Italiana, sendo que, por questão de divergências sobre o batismo por aspersão, o mesmo acabou por se desligar dela algum tempo depois. Em 1907, por ocasião do avivamento pentecostal, Francescon tomou conhecimento do mesmo através do pastor batista Willian H. Durham, um dos pioneiros do movimento pentecostal, sendo Louis batizado no Espírito Santo nesse mesmo ano. Dois anos depois, Louis Francescon e seu companheiro Giacomo, também pioneiro do movimento pentecostal na Itália, chegam a Argentina e, posteriormente, ao Brasil, mais precisamente em 8 de Março de 1910. Iniciaram seus ministérios por São Paulo e no Paraná, tendo seus campos de pregação principalmente entre as colônias dos irmãos patriotas italianos, de onde o movimento se espalhou depois por todo o território nacional brasileiro.

Uma característica marcante (e inegável) da CCB é a sua forte aversão a todas as demais denominações evangélicas. Essa rejeição é mais aguda ainda em relação à Assembléia de Deus. O relacionamento entre os líderes destas denominações históricas do pentecostalismo, no início da década de 20, era bem amistoso e fraterno, conforme atesta registro histórico das memórias de Gunnar Vingren. O porém, como já é de conhecimento de quem tem o mínimo de estudo histórico do movimento evangélico no Brasil, é que com o caminhar do tempo a CCB foi entregue em mãos de uma liderança totalmente leiga, em razão das constantes ausências de Louis em viagens para o exterior. Nestas vacâncias do líder, começou a nascer o clássico orgulho denominacional e extremista da CCB, sendo que, para piorar ainda mais a situação, no ano de 1928 houve um cisma no meio da CCB, fulminando com a metade dela se filiando à Assembléia de Deus; tal divisão teria sido motivada devido aos elementos usados na Santa Ceia, onde Louis queria celebrá-la com vinho fermentado, mas Daniel Berg (co-fundador da Assembléia de Deus, juntamente com Gunnar Vingren), era contrário a tal prática.

Voltando ao tema do véu, a CCB, dando um verdadeiro show de eixegese (e não a velha e boa exegese bíblica), deturpa totalmente as palavras de Paulo em 1 Co 11:2-16, as quais transcrevo a seguir:

“E louvo-vos, irmãos, porque em tudo vos lembrais de mim, e retendes os preceitos como vo-los entreguei. Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo. Todo o homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça. Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada. Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu. O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem. Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem. Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos. Todavia, nem o homem é sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no SENHOR. Porque, como a mulher provém do homem, assim também o homem provém da mulher, mas tudo vem de Deus. Julgai entre vós mesmos: é decente que a mulher ore a Deus descoberta? Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o homem ter cabelo crescido? Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu. Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus”.

Pois bem, a CCB simplesmente não atentou para o princípio organizacional contido nestes versículos, na verdade a CCB esqueceu este princípio, que é o ensino cardeal e real desta passagem, mas acabou por se apegar ao relato histórico/cultural da época, notadamente em Corinto. O princípio contido nestes versos é que é o ensino, a doutrina, o que permanece, e ele se encontra brilhantemente compilado no versículo 3 “Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo”; todo este contexto gira em torno deste mandamento, e a questão do véu inclusa neste tema é meramente secundária e temporal, restrita ao caso específico da igreja em Corinto; tanto é que Paulo não trata do assunto em nenhuma outra de suas cartas. Vejam bem que Paulo trata do assunto do véu não como doutrina, mas como costume “se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu”, “Julgai entre vós mesmos: é decente que a mulher ore a Deus descoberta?”, e “Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu. Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume”.

Percebemos que o ensino em relação ao véu repousa sobre a ótica norteadora do decente e indecente, honroso e desonroso, onde o véu seria um sinal público na sociedade de Corinto que a mulher era honrosa, merecendo assim o respeito dos próximos. Em relação ao cabelo, Paulo afirma que a natureza (costume natural) aponta como sendo desonra para o homem ter o cabelo comprido, e honra para a mulher ter o cabelo comprido, afirmando, inclusive, que o cabelo fora posto em lugar (substituição) do véu. O ponto principal aqui repousa na diferenciação entre homem e mulher, sendo o cabelo um fator para tal. Deus repudia toda e qualquer ação no sentido de se assemelhar homem e mulher (Gn 22:5), com o fim primário de se reprimir a filosofia do homossexualismo, bem como de exaltar a sua criação natural.

Oportuno destacar a passagem de Gn 38:14,15, onde Tamar, nora de Judá, usou do véu para se passar por prostituta! Oras, confirma-se, então, que o uso do véu como sinal de honra é meramente temporal e regional, não sendo, portanto, uma doutrina.

Citemos, ainda, a passagem de 1 Pe 3:3, onde o apóstolo claramente afirma que as mulheres cristãs de seu tempo se enfeitavam com frisados no cabelo; oras, se elas se enfeitavam com frisados no cabelo, era porque o cabelo das mesmas era visível, e não encoberto com o véu!

No demais, como já dito, Paulo afirmou que o cabelo fora dado em lugar do véu, cumprindo assim com os objetivos de honra, respeito e submissão relatados no texto base deste artigo, o que, por si só, já desqualifica esta prática da CCB.

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